Inadimplência em nível recorde no país faz demanda por crédito desacelerar no primeiro trimestre
Levantamento divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em março apontou que 77,5% das famílias estão endividadas — o maior índice dos últimos 12 anos.
O cartão de crédito é um dos principais vilões. A procura pelo rotativo em 2021 foi a maior em dez anos, somando R$ 224,7 bilhões, segundo dados do Banco Central. Esse crescimento coincidiu com a alta dos juros, da inflação e com o endividamento das famílias.
Na avaliação de Luiz Rabi, economista sênior da Serasa Experian, a cautela dos bancos para liberar crédito é uma situação de curto prazo. O cenário deve mudar quando a conjuntura econômica do país melhorar, "por volta do final do ano".
Concessão de crédito"Quando a economia vai bem, as pessoas tomam crédito para comprar imóvel e carro. Hoje, as pessoas usam cheque especial e cartão de crédito para que o salário chegue ao final do mês", explicou ele.
Dados do BC apontam que as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas específicas para cartão de crédito totalizaram R$ 151 milhões em janeiro deste ano, o que representa uma queda mensal de 9% (R$ 166 milhões) e alta anual de 35% (R$ 112 milhões) — veja gráfico abaixo.
A concessão de crédito com recursos livres total para pessoas físicas, por sua vez, registrou queda de 17,5% de dezembro de 2021 a janeiro de 2022 (de R$ 445 milhões para R$ 367 milhões). Na comparação anual, o aumento foi de 36%.
Vale lembrar que, no início de 2021, o Brasil ainda sofria os efeitos provocados pela pandemia da Covid-19, o que explica a diferença entre a comparação mensal e a anual.
Economista sênior da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Luiz Fernando Castelli afirmou que apesar de a inadimplência estar subindo, ela ainda está em um "nível baixo historicamente e não deve comprometer o sistema financeiro".
Dados divulgados pela entidade na última terça-feira (19) apontam que a estimativa de expansão da carteira de crédito em 12 meses apresentou um pequeno recuo em março na comparação com o mês imediatamente anterior: de 16,3% para 16%.
Planejamento dos bancos"Devemos ter uma estabilização do índice de inadimplência nos próximos meses porque novos estímulos na economia estão equilibrando o aumento dos juros. Estamos vivendo um momento mais difícil da economia, mas com a melhora da situação do país, por volta de 2023 e 2024, a taxa [de juros] deve cair", argumentou o economista.
Nos balanços financeiros do quarto trimestre de 2021, os 4 dos 5 maiores bancos do país — responsáveis por 70% do crédito do sistema financeiro — provisionaram possíveis prejuízos devido à elevação da inadimplência. A previsão, de fato, se confirmou nos primeiros meses de 2022.
A taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito avançou de 2,3% em dezembro do ano passado para 2,5% em janeiro. Esse é o maior patamar desde agosto de 2020 (2,7%), segundo o Banco Central.
No balanço de 2021, o Bradesco estimou crescimento de 10% a 14% para a carteira de crédito, mas indicou uma provisão para devedores duvidosos de R$ 4,283 bilhões, o que corresponde a uma alta de 27,5% na comparação trimestral e queda de 6,2% na anual.
O Santander seguiu na mesma direção: provisionou um crescimento de 0,5% para devedores duvidosos no relatório do terceiro trimestre para o do quarto trimestre do ano passado. O montante passou de R$ 3,676 bilhões para R$ 3,693 bilhões.
"O cenário macroeconômico no Brasil, com um índice de endividamento das famílias chegando a níveis mais altos, exige do banco uma atuação mais ativa na educação financeira e apoio ao cliente que precisa renegociar suas dívidas", informou o Santander, em comunicado ao g1.
Já o Itaú Unibanco informou em seu relatório que as despesas com provisões somaram R$ 6,827 bilhões no quarto trimestre de 2021, o que corresponde a um aumento de 21% na comparação anual.
Em nota, o banco afirmou que "orienta os clientes no uso consciente do limite do cartão de crédito, adota medidas de controle de endividamento na concessão de novos créditos e realiza eventuais ajustes quando necessário", sem detalhar quais seriam esses ajustes.
Ao contrário dos concorrentes, o custo da provisão de crédito de liquidação duvidosa do Banco do Brasil caiu. A despesa atingiu R$ 2,5 bilhões de outubro a dezembro de 2021, o que representa uma queda trimestral de 3,4% e anual de 26,5%.
De acordo com BB, nos últimos 12 meses, o banco registrou uma evolução de 47% na carteira de cartão de crédito. O índice de aprovação de aumento do limite do cartão, no entanto, não foi informado pelo banco.
G1|Economia