Economia brasileira deve crescer pouco em 2023; quais as consequências da estagnação?
A desaceleração já começou a dar sinais no terceiro trimestre deste ano, quando o PIB cresceu apenas 0,4% depois de 12 meses com fortes altas.
Nós já contamos o que está causando essa piora: efeito defasado dos juros altos, com consequente restrição ao crédito, baixo índice de investimento das empresas, preocupações com as contas do governo, crise em vários países que transacionam com o Brasil.
Agora, vamos falar das consequências dessa estagnação. Segundo os economistas ouvidos pelo g1, o que nos espera é uma junção de menor oferta de empregos, consumo das famílias enfraquecido e fuga de investimentos.
"A economia cresce, mas cresce num ritmo menor. Isso afeta, por exemplo, o ritmo de geração de empregos. A gente está enfrentando ainda um cenário de inflação elevada. O Banco Central tem subido juros para conseguir trazer essa inflação para patamares mais baixos", explica Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria .
"Isso significa um esfriamento da economia porque, ao subir juros, o crédito fica mais caro, as pessoas consomem menos, isso acaba afetando a produção de eletrodomésticos, a contratação de trabalhadores, então a gente tem todo esse ciclo que se desenvolve", completa a economista.
Além da diminuição da geração de empregos, os salários também sobem menos em termos reais, analisa Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos.
"A gente pode ter um cenário em que o emprego avança de uma forma mais moderada, consequentemente o salário sobe menos e o serviço da dívida fica maior por causa dos juros. Então seria um balanço mais complexo para muitas famílias brasileiras", explica.
Desaceleração 'desigual'
A desaceleração não impacta os setores com a mesma intensidade. Pela ótica da demanda (de quem consome), ela vai afetar mais fortemente o consumo das famílias, principalmente de bens duráveis por causa do encarecimento do crédito, explica Ribeiro. Outro segmento que deve crescer perto de zero são os investimentos.
E, diferente do que vimos neste ano, o consumo de serviços também deve diminuir. "Nós tivemos um crescimento muito forte da demanda de serviços, principalmente presenciais, uma vez que o quadro pandêmico já estava controlado. Mas não vemos isso permanecendo em 2023, até porque a gente já recuperou uma base de comparação muito fraca que veio de 2021", diz a economista.
Já o agro pode ter um ano mais promissor após um 2022 complicado principalmente pela quebra de safra da soja em alguns estados importantes, projeta Wellington Nobrega, analista da 4Intelligence. O economista também acredita que a construção civil pode crescer devido a investimentos no programa de habitação Casa Verde e Amarela.
Cenário internacional
Não é só o Brasil que vai enfrentar esse crescimento menor no ano que vem. A média global do crescimento do PIB projetada para 2023 é de 2,7%, frente aos 3,2% projetados para este ano, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Dos 10 países com as maiores participações nas exportações brasileiras em 2021, 8 têm projeção de crescimento para 2023 menor do que para 2022. E um deles, o Chile, tem até expectativa de retração da economia.
"Do ponto de vista externo, o menor crescimento mundial esperado pode afetar negativamente a demanda de importantes parceiros comerciais do Brasil, reduzindo o comércio internacional", explica Nobrega.
As nossas exportações também podem ser afetadas pelo cenário de inflação e juros altos observado nas principais economias.
"Temos os Bancos Centrais das economias desenvolvidas subindo juros e isso também vai ter efeito por lá. E como nós exportamos commodities e produtos manufaturados, isso também pesa aqui no nosso crescimento econômico de 2023", diz Ribeiro.
Por Thaís Matos, g1