Mulher, jovem e com ensino médio incompleto são a maioria dos endividados, que bateram recorde em 2022

O ano de 2022 bateu recorde de famílias endividadas. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,9% das famílias estavam endividadas no ano passado, alta de 7 pontos percentuais em relação a 2021 (70,9%) e de 14,3 p.p. em relação a 2019 (63,6%), antes da pandemia.

É um recorde da série histórica, iniciada em 2011. Para se ter uma ideia, o índice mais baixo foi registrado em 2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas.
De acordo com a CNC, a maioria dos endividados são mulheres, têm menos de 35 anos e ensino médio incompleto, moradoras das regiões Sul ou Sudeste, cujas famílias recebem até 10 salários mínimos.
 
Do total de endividados, 17,6% se consideram muito endividados, a maior proporção da série histórica. A cada 10 famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas. Já entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.

Em média, o brasileiro gastou em 2022, a cada R$ 1 mil, R$ 302 em dívidas. No total, 70% das famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Mais de 1/5 dos endividados tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas.

Cartão concentra as dívidas

A principal forma de endividamento foi o cartão de crédito, mesmo que os juros sejam os maiores desde dezembro de 2016 – a taxa de juros média em todas as operações de crédito com pessoas físicas saltou de 41,2% para 52,1% ao ano, alta de 10,6 pontos em 2022, segundo a CNC.

Se em 2012, 75,2% das dívidas eram no cartão, o ano passado terminou com 86,6%, um aumento superior a 11 pontos percentuais.

Despesas essenciais viram dívidas
A economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta um dado preocupante: o cenário econômico geral apertou o orçamento das famílias e despesas essenciais se transformaram em dívidas.
 

“As pessoas com renda mais baixa estão usando o cartão de crédito para comprar alimentos e medicamentos, além de pagar contas de luz e telefone, por exemplo, para postergar o gasto para o mês seguinte ou mesmo parcelar esses valores”, afirma.


O presidente da CNC, José Roberto Tadros, explica que a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento que era registrada até 2019, especialmente entre os mais pobres.
 

“Os efeitos perversos da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e no pós-pandemia com o avanço da inflação, fizeram com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade. Enquanto entre as famílias de maior renda, a retomada do consumo reprimido levou à maior contratação de dívidas”, afirma.


Endividamento entre ricos é recorde
Pela primeira vez na história da pesquisa da CNC, a proporção de endividados entre os mais ricos alcançou mais de 70% de consumidores desse grupo, que essencialmente utilizaram o cartão de crédito para financiar despesas com a retomada do consumo de serviços, viagens e entretenimento fora de casa a partir de 2021.

Segundo a entidade, o avanço no endividamento pós-pandemia é explicado por três fatores:
  • Entre as famílias mais pobres, o crédito foi fundamental para recomposição da renda e suporte ao consumo de itens de primeira necessidade, diante dos efeitos perversos da crise sanitária sobre o emprego formal e informal e da alta rápida e intensa da inflação.
  • Entre as famílias mais ricas, a retomada do consumo reprimido nos tempos de lockdown levou a mais contrações de dívidas.
  • Para todos os consumidores, as inovações tecnológicas nos serviços financeiros incentivaram o uso do crédito na aquisição de bens e serviços de forma geral.
Inadimplência também é recorde
Houve um crescimento de 3,7 pontos percentuais no número de famílias com dívidas atrasadas em relação a 2021: de cada 10, três atrasaram algum pagamento. Esse valor é o maior desde o início da pesquisa. O perfil do inadimplente é também de uma mulher, no entanto, com mais de 35 anos, ensino médio incompleto, na faixa menor de renda e moradora do Norte ou Nordeste.
 
Além disso, entre os inadimplentes, 43% atrasaram as dívidas por mais de três meses e 10,7% afirmaram que não terão como quitar os débitos. Esse número dobrou em relação a 2014, quando foi atingido o menor nível da série.

Entre as famílias de renda menor, 32,3% não têm condições de pagar os atrasados, enquanto entre as que recebem salários maiores, esse índice fechou o ano em 13,3%.

G1 | Economia
Editorial, 20.JANEIRO.2023 | Postado em Mercado


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